quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Diário

Estranha sensação de estranhamento do próprio eu. Tanto tempo dedicado a abrir portas, portinholas, janelas, baús...E finalmente me reconheço nesse pedaço de realidade. Me dispo pouco a pouco de cada peça de roupa. A pele. Epiderme. E por um segundo me enxergo. Uma fresta que a primeira brisa da primavera vem abrir. Gosto do que vejo. Do pouco. Do quase nada de mim que se revela agora. O corpo trêmulo, a alma invadida, recém renascida. Antiga desconhecida, fugitiva.Tento agarrá-la. Muitas vozes, gritos, palavras, imagens, milhões de sons flutuando pelo quarto, sala, rodando cada vez mais forte. Firmo o passo, seguro com força esse ensaio de mim.Uma felicidade estrangeira se move comigo, aquece o corpo, desgranha os cabelos, gruda nos poros, adoça o hálito, excita a carne. E antes de adormecer me beija delicada e calma...

Caixa de Pandora

No fundo de uma gaveta
brilha sem ser visto
gotas do que fomos

Um colar
um par de brincos

Presentes de um passado
escondido
trancafiado
por alguém de olhos claros

Vã tentativa
céu estrelado
vão
psicodelia

som das antigas
bijuteria

Caixa de pandora
liberta dragões
fantasmas
um monstro de olhos doces
e riso triste

Melhor não achar a chave
melhor deixar que a água
despedace as fotos

Melhor não procurar entre pedras
pedras
brilhantes
do colar arrebentado.