Adquira-me em paredes
em partes dissonantes
todos os poemas
adquira-me em sílabas
letra a letra
que passar rente a mesa
das tuas palavras
embaladas de noite e soltura
adquira essa minha inconstância ao andar
esses acasos vivos em mim
como um cão acariciado por um desconhecido
permita-me um carinho alheio
ao que ofereço no poema
não quero te prender
na linha estreita e apertada da forma
não quero te ditar uma rima
nem tão pouco que entendas a poesia
como um sopro que desejas imensamente
ou simplesmente
perceber
não quero te encher dessas palavras
repetidas
ao poeta não cabe a plavra
cansada e óbvia
ditada e redita a toda hora
nessa confusão barata
do mundo-boca
que queiras conhecer outra palavra alva
outra palavra branca ou negra
escondida nesse caderno espaçoso
sem linhas de excesso
limpo liso e preciso
que queiras saber
uma palavra que
também possuis
mas não te foi revelada
aquele verso solto volto e revolto
consultado diariamente
recitado pra si
aquela palavra inversa
que te cerceia
e não sabes
lembrar o nome
aquele sentimento poema
que te engalfinhas para achar
o sentido
mas só diz a palavra
mas a palavra só diz
mas só a palavra diz
se permitir um espaço
entre o livro e essa instância em escrever
se no visgo da minha passagem
lado a lado
vizinho a essa remessa de verso
solveres
saliva a saliva
minúcia a minúcia
gole a gole
a poesia distante que rápido evapora
adquira-me logo
há de passar em mim e perante a esses corpos
o poema-labirinto
que negado a adquirir-nos
pode se enterrar
em qualquer outra garganta seca
e pode estar lá morto
nosso viço poema
que nada quis
dilacerado numa parte-página
em branco
Ryana Gabech
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2 comentários:
Bah, a neguinha se esmerou nesse!
Muito demais!
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