O poeta a procura de
uma música que seja...
...Como os mais belos harmônicos da natureza. Uma música que seja como o som do vento na cordoalha dos navios, aumentando gradativamente de tom até atingir aquele em que se cria uma reta ascendente para o infinito.Uma música que comece sem começo e termine sem fim.Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto.Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre.Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergastadas pelos temporais.Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de harmonia nova.Uma música que seja como o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons...
De um verbo...
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Um horizonte...
Mais que perfeito
Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(comum embora)
Ah, quem me dera ir-me!
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...
Vinicius de Moraes
“Vinicius: o paradigma de uma liga indissolúvel entre a vida e a poesia. A vida de poeta. Do rapaz de família autor dos mais belos sonetos, o falso mendigo, o falso vagabundo que trabalhava como um mouro enquanto produzia, curtia e produzia e curtia e produzia e curtia. Pela produção maciça de delicadezas, Vinicius pode ser o protótipo do bicho - da- seda brasileiro.”
Waly Salomão.
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