domingo, 11 de novembro de 2007

Esconderijo


Quando um dia
Com os olhos cansados
Do dia seguinte

Olhei para dentro de mim
Surpreendi-me ao ver uma criança

Não pude ver o rosto
Mas senti a pele
Os cabelos
A solidão

Assustada corri para o quarto
A cama estava arrumada
A casa cheirava a bolo

Pairava um ar de felicidade

Pela vidraça, vi outras crianças
Brincavam no jardim

Meninas

Rodavam de mãos dadas

Pude sentir o cheiro das rosas
O calor da tarde, anunciando chuva

Escondida atrás da cortina
Vi meus pais chegarem

Eram jovens, tinham sonhos
Traziam brinquedos para mim e
Meu irmão

Não tive coragem de sair do esconderijo

Sentia-me longe
Pensei em como o mundo dos adultos era distante
Calei


Ouvia seus passos
Suas conversas

Mas pertencia a outro mundo


Voltei para mim
Voltei a olhar para o hoje

Mas guardo esse passado

Essa solidão de criança

Essa casa em que me refugio
Quando me sinto só.



Patricia Borda




3 comentários:

rodrigo aguiar disse...

menina, que bonito.
fiquei pensando em quando eu era criança, e tinha momentos assim, apartados do mundo adulto. nem bons nem ruins, ao menos não em essência. em essência diferentes do mundo adulto.
mas também lembro de umas coisas meio sombrias de quando garoto. e de uma frase que, pra mim foi um soco: "venho, como todos, do quarto escuro da infância".
tive vontade de que, quando criança, eu pudesse ganhar energia lembrando do que sou agora, não o contrário.
mas, enfim, pensei várias coisas disso que você pensou antes.

beijinho, menina.
rodrigo

Pati disse...

Rodrigo, esse mundo infantil, esse "quarto escuro da infância", é mesmo uma fonte inesgotável de sentimentos e lembranças...Estava lendo "cartas a um jovem poeta" do Rilke, quando essa criança começou a me puxar a barra da saia, pedindo que eu voltasse um pouco no tempo...

beijo grande!

Glauco disse...

Muito legal, hein? Espero que tu publique mais coisas tuas! Até.